Imagine a seguinte situação:

Você é jornalista e está fora da área há mais de 5 anos. Sua situação financeira nesse momento não é nada boa. Aluguel atrasado, conta de luz vencida e ainda tem família e filho.

Imagine que nesse momento você recebe uma ligação minha dizendo que tenho um trabalho onde você vai ganhar pelo menos 10 mil reais por mês, mas, para acessá-lo você precisa vir até mim, em menos de 24 horas e estou há cerca de 1000 km de distância de você. O que você faria?

A sua resposta define se você é uma pessoa que vive de condição ou de propósito.

Se você vive de propósito, você vai levantar agora e dar um jeito de estar na hora e no lugar em que foi chamado, porque você sabe que ali tem uma oportunidade de mudança.

Se você é uma pessoa que vive de condição, vai lamentar o fato de não ter dinheiro para ir, provavelmente, vai choramingar para os seus conhecidos e mesmo que eles deem várias alternativas para você abraçar essa oportunidade, para cada uma delas você terá a desculpa confortável e perfeita.

Eu tenho uma história que eu amo. Em 2019 eu fiz uma matéria para a Stock Car num albergue em Santa Cruz do Sul. Fazia muito frio lá. Fizemos uma campanha do agasalho e levei os pilotos da Stock Car para servirem sopa para os moradores de rua.

Ali conhecemos um rapaz que nos revelou que seu grande sonho era fazer letras e ser professor e aquilo mexeu muito com os pilotos. Eles se reuniram e decidiram pagar a faculdade dele.

Fomos embora, veio a pandemia e perdemos contato.

Dois anos depois, de volta à cidade eu fui procurá-lo. Para minha alegria ele estava formado e trabalhando numa escola infantil da cidade.

Mas, escuta só. A faculdade era só uma parte das despesas. Ele morava na rua e a noite, pedia o computador do albergue emprestado para fazer as tarefas.

Quando ele terminou e prestou o concurso público, tinha que entregar exames médicos que totalizavam mais de mil reais. O que ele fez? Procurou uma médica da cidade, contou a história dele, e pediu se ela poderia fazer os exames e ele pagaria com o primeiro salário.

No primeiro mês de trabalho, ainda sem dinheiro, ele foi trabalhar a pé, cerca de 25 km pela rodovia, todos os dias, com chuva e frio.

Aos poucos os novos amigos foram chegando, vieram as caronas, depois ele conseguiu uma casa popular, e aquele homem conseguiu a transformação.

Ele tinha um propósito que era maior do que os problemas.

Aqui eu vejo muitos jornalistas com propósito, e já estamos caminhando juntos e tenho visto suas vidas transformadas. Por outro lado, vejo outros em condições muito mais favoráveis sem coragem de fazer um movimento.

A maioria é mestre em desculpa ou doutor em procrastinação.

Quando mais eu invisto em trazer mais jornalistas para o mercado de trabalho, mais eu entendo que quem é bom em desculpas, não é bom em mais nada.